QUATRO
POEMAS DE ANTON VAN WILDERODE
A árvore-das-borboletas
Por sobre o denso mato
vai movendo
longas guias até cima.
Unidos
ímpares no alto os
botões floridos
malva e lilás, azul
quase acolhendo.
Borboletas no voo e
emoção
(as brancas cor de
arminho oceladas)
vêem-na longe ou perto
deslumbradas;
de invisível odor nasce
a atracção.
De algures ser em voo,
em convento
silente de asas e
pétalas, giram
e juntas embalando-se
respiram
na única vontade ao
movimento.
Yuste (5)
Dif’rente a calma que
tenho encontrado.
O silêncio de frutos d’
oliveira,
de carvalho seco, da sua
madeira,
de mármore e pedra no
lajeado.
Um fogo imóvel activo no
lar
que nunca mais há-de
‘star apagado,
poltrona e leito nunca
mais mudados,
cadeiras quietas a mesa
a rodear.
E apenas algo audível na
estival
noite quieta, na rama
onde calados
pares de pássaros ficam
guardados
ou a água quando rega o
canal.
Testamento (2)
Cortou a pluma de ganso
o estilete,
retirada está a tampa do
tinteiro
e o pó de ouro, de um
brilho ligeiro,
sobre os florais motivos
do tapete.
A mão direita não sabe
neste dia
como começar, com que
expressões,
o atormentado pergaminho
põe
como antes sempre fazia
e no branco a ponta da
pluma
a irresolução decidido a
superar.
Escrevo contra a luz do
sol, a traçar
sobre o grão vazio
letras uma a uma.
Quem vai, quem fica
O mundo continuará
depois do pranto,
árvores jovens, adultas,
baloiçantes
sobre o verde de tantas
ervas deslizante,
por tudo se espraia das
aves o canto,
as estrelas com o mesmo
nome ao girar
ante outros homens com
nomes alterados
em suas órbitas dadas
para tempos dados
enquanto o sol durar e a
luz estival,
um aluvião de rosas
decerto haverá,
redonda neve de inverno
nos caminhos
e a chuva dará suas
voltas peregrinas,
e dia e noite e dia
quando me vá.
(Traduções de Ruy Ventura)
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