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Alberto Lacet - Moça lendo

 

 

Poemas de Robert Frost

 

 

 

A estrada não trilhada

 

Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,

mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.

Assim, por longo tempo eu ali me detive,

e um deles observei até um longe declive

no qual, dobrando, desaparecia...

 

Porém tomei o outro, igualmente viável,

e tendo mesmo um atrativo especial,

pois mais ramos possuía e talvez mais capim,

embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,

os tivesse marcado por igual.

 

E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos

de folhas que nenhum pisar enegrecera.

O primeiro deixei, oh, para um outro dia!

E, intuindo que um caminho outro caminho gera,

duvidei se algum dia eu voltaria.

 

Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,

nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:

a estrada divergiu naquele bosque – e eu

segui pela que mais ínvia me pareceu,

e foi o que fez toda a diferença.

 

 

 

A FAMÍLIA DA ROSA

 

A rosa é uma rosa

E sempre foi rosa.

Mas hoje se usa

Crer que a pêra é rosa

E a maçã vistosa

E a ameixa, uma rosa.

Pergunta a amorosa

Que mais será rosa.

Você, claro, é rosa

Mas sempre foi rosa.

 

 

 

 

NUM CEMITÉRIO EM DESUSO

 

O vivos vêm pisando a grama,

vêm ler no morro as inscrições;

o cemitério ainda os atrai;

os mortos é que não vêm mais.

 

Os versos nele se repetem:

“Aqueles que hoje vivos vêm

a ler as pedras e se vão

mortos é que amanhã virão.”

 

Certas da morte as lousas rimam,

mas não sem deixar de notar

que nenhum morto já não vem.

Do que é que os homens medo têm?

 

Seria fácil ser esperto

e lhes dizer: "Eles detestam

a morte, e já não entram nela."

Talvez caíssem na esparrela.

 

 

 

 

EM WOODWARD’S GARDENS

 

Por mera conjetura, um menino acercou-se

certa vez de uma jaula e expôs a dois macacos

uma lente de aumento – objeto que macacos

não podem compreender, nem podem ser levados

a compreender, por mais que se empreguem palavras

ou que se diga que tais lentes são capazes

de concentrar num ponto as radiações do sol.

Mas, para lhes mostrar a arma em funcionamento,

ele fez um pontinho em cima do nariz

do primeiro macaco e, após, do outro, gerando

uma névoa de espanto em seus olhos perplexos,

que piscadela alguma alcançou dissipar.

De braços dados junto às grades, os macacos,

com grande confusão, olhavam para a vida.

Um levou ao nariz uma mão pensativa,

como se recordasse – ou como se estivesse

parado a alguns milhões de anos de alguma idéia.

Atingiram-se os nós de seus rosados dedos.

O já sabido foi outra vez confirmado

por meio dessa experiência psicológica.

E então a descoberta acabaria nisso,

não houvesse o menino, em suas conjeturas,

se demorado tanto e aproximado tanto.

Como um relâmpago de braço, houve um puxão,

e agora era do símio o que foi do menino.

Correram, num tropel, para o fundo da cela

e deram logo início a uma investigação

por conta própria e sem a intuição necessária.

Perscrutaram o gosto, a mordiscar a lente;

destroçaram o cabo e a argola que o prendia.

E, não mais sábios, desistiram em seguida.

E eis que, ocultando-a sob a palha onde dormiam,

na ampla modorra de outro dia de prisão,

voltaram novamente às grades, com secura,

a si mesmos dizendo: E quem disse que importa

o que os macacos compreendem, e o que não?

Podem não compreender o vidro que incendeia.

Podem não compreender a luz do próprio sol.

Saber o que fazer das coisas é que conta.

 

 

 

 

UM PÁSSARO MENOR

 

Quis, de fato, que o pássaro voasse

E próximo ao meu lar não mais cantasse.

 

Cheguei à porta para afugentá-lo,

Por sentir-me incapaz de suportá-lo.

 

Penso que a inteira culpa fosse minha,

E não do pássaro ou da voz que tinha.

 

O erro estava, decerto, na aflição

De querer silenciar uma canção.

 

 

(Tradução de Renato Suttana)

 

 

 

 

 

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