Poemas de
Robert Frost
A
estrada não trilhada
Num
bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
mas, sendo
um só, só um caminho eu tomaria.
Assim, por
longo tempo eu ali me detive,
e um deles
observei até um longe declive
no qual, dobrando, desaparecia...
Porém
tomei o outro, igualmente viável,
e tendo
mesmo um atrativo especial,
pois mais
ramos possuía e talvez mais capim,
embora,
quanto a isso, o caminhar, no fim,
os tivesse marcado por igual.
E ambos,
nessa manhã, jaziam recobertos
de folhas
que nenhum pisar enegrecera.
O primeiro
deixei, oh, para um outro dia!
E,
intuindo que um caminho outro caminho gera,
duvidei se algum dia eu voltaria.
Isto eu
hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum
tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada
divergiu naquele bosque – e eu
segui pela
que mais ínvia me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença.
A
FAMÍLIA DA ROSA
A
rosa é uma rosa
E
sempre foi rosa.
Mas
hoje se usa
Crer
que a pêra é rosa
E
a maçã vistosa
E
a ameixa, uma rosa.
Pergunta
a amorosa
Que
mais será rosa.
Você,
claro, é rosa
–
Mas
sempre foi rosa.
NUM
CEMITÉRIO EM DESUSO
O
vivos vêm pisando a grama,
vêm
ler no morro as inscrições;
o
cemitério ainda os atrai;
os
mortos é que não vêm mais.
Os
versos nele se repetem:
“Aqueles
que hoje vivos vêm
a
ler as pedras e se vão
mortos
é que amanhã virão.”
Certas
da morte as lousas rimam,
mas
não sem deixar de notar
que
nenhum morto já não vem.
Do
que é que os homens medo têm?
Seria
fácil ser esperto
e
lhes dizer: "Eles detestam
a
morte, e já não entram nela."
Talvez
caíssem na esparrela.
EM
WOODWARD’S GARDENS
Por
mera conjetura, um menino acercou-se
certa
vez de uma jaula e expôs a dois macacos
uma
lente de aumento – objeto que macacos
não
podem compreender, nem podem ser levados
a
compreender, por mais que se empreguem palavras
ou
que se diga que tais lentes são capazes
de
concentrar num ponto as radiações do sol.
Mas,
para lhes mostrar a arma em funcionamento,
ele
fez um pontinho em cima do nariz
do
primeiro macaco e, após, do outro, gerando
uma
névoa de espanto em seus olhos perplexos,
que
piscadela alguma alcançou dissipar.
De
braços dados junto às grades, os macacos,
com
grande confusão, olhavam para a vida.
Um
levou ao nariz uma mão pensativa,
como
se recordasse – ou como se estivesse
parado
a alguns milhões de anos de alguma idéia.
Atingiram-se
os nós de seus rosados dedos.
O
já sabido foi outra vez confirmado
por
meio dessa experiência psicológica.
E
então a descoberta acabaria nisso,
não
houvesse o menino, em suas conjeturas,
se
demorado tanto e aproximado tanto.
Como
um relâmpago de braço, houve um puxão,
e
agora era do símio o que foi do menino.
Correram,
num tropel, para o fundo da cela
e
deram logo início a uma investigação
por
conta própria e sem a intuição necessária.
Perscrutaram
o gosto, a mordiscar a lente;
destroçaram
o cabo e a argola que o prendia.
E,
não mais sábios, desistiram em seguida.
E
eis que, ocultando-a sob a palha onde dormiam,
na
ampla modorra de outro dia de prisão,
voltaram
novamente às grades, com secura,
a
si mesmos dizendo: E quem disse que importa
o
que os macacos compreendem, e o que não?
Podem
não compreender o vidro que incendeia.
Podem
não compreender a luz do próprio sol.
Saber
o que fazer das coisas é que conta.
UM
PÁSSARO MENOR
Quis,
de fato, que o pássaro voasse
E
próximo ao meu lar não mais cantasse.
Cheguei
à porta para afugentá-lo,
Por
sentir-me incapaz de suportá-lo.
Penso
que a inteira culpa fosse minha,
E
não do pássaro ou da voz que tinha.
O
erro estava, decerto, na aflição
De
querer silenciar uma canção.
(Tradução
de Renato Suttana)
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