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Jackson Pollock

 

"ESQUECIMENTO" E OUTROS POEMAS DE HART CRANE

 

 

ESQUECIMENTO

 

O esquecimento é uma canção

Errante e solta sem compasso.

O esquecimento é um pássaro de asas avindas

Abertas e paradas

Um pássaro encostado ao vento sem fadiga.

 

O esquecimento é a chuva à noite,

Ou uma casa velha na floresta ou uma criança.

O esquecimento é branco branco de árvore abatida.

E pode pôr a Sibila a profetizar pasmada,

Ou enterrar os deuses.

 

Lembro muito esquecimento.

 

 

 

 

INTERIOR

 

Espalha uma festa tímida

A lâmpada em nosso quarto.

Calma dourada e cinza,

Silêncio e suave enfarto!

 

Longe do mundo, a hora roubada

Pedimos, quem saberia

Que o amor é uma flor atrasada

A abrir no que resta ao dia.

 

E se o mundo entrasse em cena

Com ciúmes e malícia,

Partiria com uma vénia

Levando pena e um sorriso

 

 

 

 

REPOUSO DE RIOS

 

Os salgueiros tinham um som lento,

Uma sarabanda que o vento cortara no campo.

Jamais me lembraria

Aquele fremente, constante alisar dos pântanos

Até a idade me trazer ao mar.

 

Folhas, ervas. E lembranças de alcovas a pique

Com ciprestes partilhando a tirania do sol

No alto; levaram-me até ao Hades, quase.

E tartarugas mamute escalando sonhos de enxofre

Rendiam-se, enquanto a lama do sol as separava

Em ondas…

 

Tanta coisa para trocar! a garganta escura

E todos aqueles ninhos estranhos nos morros

Onde os castores aprendiam ponto e dente.

O lago onde uma vez entrei para logo fugir

Relembro agora a sua margem cantante de salgueiros.

 

E por fim nessa memória que todas as coisas amimam;

Depois de passar a cidade enfim

Com óleos escaldantes vertidos e dardos fumegantes

Que a monção lançava através do delta

Às portas do golfo…além, para lá dos diques

 

Ouvi a safira que esboroa ventos, como o verão de agora

E os salgueiros não podiam ter som mais constante.

 

 

 

 

PROÉMIO: À Ponte de Brooklin

 

Quantas manhãs, molhadas no descanso

As asas da gaivota hão-de rodá-la

Tumultuando anéis brancos, levantando

Por sobre as águas presas Liberdade-

 

E depois numa curva inviolada

Sair da nossa vista como velas

Fantasmas através de relatórios;

Até o dia acabar nos escritórios

 

Penso em cinemas, truques panorâmicos

Com multidões correndo em grande afã

A uma cena de luz nunca entendida,

Prevista aos outros sobre o mesmo ecrã.

 

E Tu, através do porto, andada em prata

Como se o sol tomasse em ti o passo

Mas te deixasse um mover nunca exausto-

Tua liberdade implícita travando-te.

 

De uma boca do metro, cela ou prédio

Um louco corre até aos teus parapeitos,

Oscila, grita a camisa em balão,

Um chiste cai da caravana muda.

 

Da trave, escorre por Wall Street abaixo

Um dente serra ao céu de acetileno;

Nuvens, a tarde inteira, rodam guinchos….

Os teus cabos aspiram ainda o Atlântico.

 

E obscuro como o tal céu dos Judeus,

Teu prémio... conferes o galardão

Do anonimato que o tempo não cria:

Mostras o alívio vibrante e o perdão.

 

Ó harpa e altar, da fúria derretida

(como é que mero esforço te encordoou!)

Tremendo umbral do voto do profeta,

Prece do pária, e queixume do amante.

 

As luzes dos semáforos que escumam

De novo o teu idioma sem fracções,

Contas de estrelas-condensam o eterno:

E já vimos a noite alta em teu braços.

 

Esperei à tua sombra junto ao cais;

Só às escuras a tua sombra é clara.

Desfeitos os embrulhos da cidade,

Já o ano férreo em neve se afundara.

 

Ó sem sono como águas do teu rio,

Saltando o mar, prados e sonhos seus,

Uma ou outra vez rebaixa-te até nós

E do encurvado empresta um mito a Deus.

 

 

(Traduções de Sephi Alter)

 

 

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