GILFRANCISCO E O RESGATE DA MEMÓRIA CULTURAL BAHIA/SERGIPE
(Ângelo Barroso Costa Soares*)
Ainda muito jovem, no início dos anos
90, quando aluno de graduação do Curso de Letras Vernáculas no
Campus IV da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, localizado na
cidade de Jacobina, no Piemonte da
Chapada Diamantina, ouvi falar pela primeira vez no poeta Arthur de
Salles, através da muito querida professora de Filologia Românica,
Professora Dra. Teresa Leal Gonçalves Pereira, mais tarde, como
aluno especial do mestrado no Instituto de Letras da Universidade
Federal da Bahia, cursando a disciplina Edição Crítica de Textos
Modernos, pude participar da edição crítica de um dos manuscritos do
poeta baiano.
Apesar de Arthur de Salles ter um dos
seus poemas conhecidos por qualquer cidadão baiano, O Hino ao Nosso
Senhor do Bonfim, poucos o conhecem na sua grandeza de poeta, um
autor que conseguiu atravessar vários momentos da nossa literatura.
Foi Parnasiano, Simbolista e Pré-modernista, fazendo uma poesia de
extremo rigor e com maestria no domínio da arte de poetar. Graças ao
Prof. Dr. Newton Vasco da Gama e o
grupo de Filologia da UFBA, sob sua orientação, muito da obra de
Arthur de Salles já foi resgatado. No entanto, faltam ainda, meios
que possibilitem a divulgação desta produção.
Talvez agora, com a mudança curricular
implantada pela Universidade do Estado da Bahia, UNEB, cujos
currículos dos cursos de letras trazem a disciplina Literatura
Baiana, o poeta Arthur de Salles possa ser mais estudado pelas novas
gerações de acadêmicos.
Cabe ressaltar a enorme contribuição do
Prof. Gilfrancisco Santos para o resgate de muitos autores da
literatura baiana. Poucos pesquisadores conseguem ter a perspicácia
de Gilfrancisco na busca de fontes primárias em arquivos públicos ou
particulares, sem contar, que trata-se de um pesquisador
extremamente generoso para com os demais, um pesquisador que não se
furta em ceder documentos para teses, dissertações e artigos. Apesar
desta entrega, muitas vezes não é reconhecido no universo
acadêmico.
Gilfrancisco Santos é um baiano de
Salvador, que apesar de mais de uma década ausente da sua cidade e
do seu Estado, jamais deixou de pesquisar e resgatar a memória
baiana, divulgando-a aos quatro cantos do país. Pouco reconhecimento
vem da crítica baiana para esse pesquisador que em 2001, publicou um
dos mais importantes livros de literatura, fruto das suas pesquisas;
Crônicas & Poemas recolhidos de Sosígenes Costa, ano do
centenário do poeta de Belmonte. A presente publicação recebeu
apenas o comentário na imprensa baiana por parte da escritora Gerana
Damulakis, crítica do Jornal A Tarde.
Em 2005 Gilfrancisco faz o resgate da
obra do poeta baiano/sergipano Enock Santiago Filho, pouco ou quase
nada conhecido na Bahia, só divulgado através da publicação do seu
livro Flor em rochedo rubro: o poeta Enock Santiago Filho, no
entanto, mais uma vez a imprensa baiana calou-se em não publicar
nenhuma resenha do referido livro, enquanto que no Estado de Sergipe
tal publicação foi fortemente celebrada nos jornais locais.
Em 2006, foi publicado Godofredo
Filho & o modernismo na Bahia, até o presente momento nenhuma
referência nos jornais baianos, mas que ainda está em tempo, uma vez
que o lançamento é recente e requer inúmeras reflexões, pois se
trata do primeiro poeta modernista na Bahia, um poeta que já é fruto
de inúmeras dissertações de mestrado e vários artigos científicos
publicados em revistas do país.
Esperamos em breve, a publicação de
Musa Capenga: o poeta Edison Carneiro. O mais importante
etnólogo, folclorista, defensor da religião negra na Bahia, um dos
membros da Academia dos Rebeldes, agremiação já resgatada por mim em
dissertação de mestrado sob a orientação do Prof. Dr. Cid Seixas,
cuja realização se deu graças à valiosa contribuição de Gilfrancisco
e Waldir Freitas Oliveira; pesquisa que está tendo sua continuidade
agora no Doutorado em Literatura Comparada na Universidade Federal
Fluminense – UFF.
O projeto de publicação de Musa
Capenga já se encontra aprovado pelo Conselho Estadual de
Cultura do Estado da Bahia. Obra que já tive o privilégio de ler os
originais e que trará enorme contribuição, pois até então, não se
conhecia o grande Edison Carneiro como poeta e que virá acompanhado
de estudo crítico do Prof. Dr. Cid Seixas.
Outro resgate importante feito por
Gilfrancisco e que aguarda publicação pela Fundação Casa de Jorge
Amado, é O país do Carnaval e sua receptividade crítica,
publicação extremamente necessária para um melhor estudo e
compreensão da trajetória literária de um grande escritor
brasileiro, pois trata-se do seu primeiro livro.
Agora somos brindados por sua mais
recente publicação que é o resgate da passagem do poeta Arthur de
Salles pelo Estado de Sergipe na visão da imprensa local, bem como a
fortuna crítica organizada a partir de 1982, uma vez que
anteriormente já havia sido estabelecida pelo Prof. Dr. Newton Vasco
da Gama e ainda textos esparsos sobre o poeta, que dado o rigor
científico de tais publicações e a importância dos autores destes
textos, foram incluídos na presente publicação.
Num país que cobra tanto o resgate da
memória cultural, mais uma vez estamos em dívida com o
professor-pesquisador, jornalista Gilfrancisco Santos, um baiano de
nascimento, sergipano por adoção, que encontrou em Aracaju o
reconhecimento e valorização do seu trabalho de resgate da
literatura baiana, sergipana e porque não dizer brasileira.
(Publicado originalmente no Jornal da
Cidade – Aracaju, 2-9-2006)
* Professor de Literatura da
Universidade do Estado da Bahia; mestre em Literatura e Diversidade
Cultural pela Universidade Estadual de Feira de Santana, com a
dissertação intitulada: Academia dos Rebeldes: Modernismo à moda
baiana e doutorando em literatura comparada pela Universidade
Federal Fluminense – UFF.
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