POEMAS
DE ALAIN GRANDBOIS
QUE
A NOITE SEJA PERFEITA...
Que
a noite seja perfeita se formos dignos dela
Nenhuma
pedra branca nos indicava o caminho
Onde
as fraquezas vencidas acabavam de morrer
Íamos
para além dos mais longínquos horizontes
Com
os nossos ombros e com as nossas mãos
E
esse entusiasmo tamanho
Até
ao brilho das abóbadas insondáveis
E
essa fome de permanecer
E
essa sede de sofrer
Sufocando-nos
a garganta
Como
mil enforcamentos
Partilhámos
as nossas sombras
Mais
do que as nossas luzes
Mostrámo-nos
Mais
gloriosos com as nossas feridas
Do
que com as vitórias esparsas
E
as manhãs felizes
Construímos
muro a muro
A
negra muralha de nossas solidões
E
essas cadeias de ferro prendendo o nosso andar
Forjadas
com o mais duro metal
Que
perfeita seja a noite em que nos afundamos
Destruímos
toda a felicidade e toda a ternura
E
os nossos gritos não terão
Doravante
mais do que o trémulo eco
Das
poeiras perdidas
Nos
abismos do nada.
(in
Poèmes d’ Hankéou, 1934)
PRESO
E PROTEGIDO
Preso
e protegido e condenado pelo mar
Flutuo
no vácuo das ondas
As
colunas do céu carregam os meus ombros
Os
meus olhos fechados rejeitam o arcanjo azul
O
peso das profundezas estremece sobre mim
Estou
só e nu
Sou
só e sal
Flutuo
à deriva sobre o mar
Ouço
a aspiração gigante dos deuses imersos
Escuto
os derradeiros silêncios
Para
além dos horizontes mortos
(in
Les Iles de la Nuit, 1944)
A
ALVA AMORTALHADA
Mais
baixo ainda meu amor calemo-nos
Este
fruto aberto ao sol
Os
teus olhos como o sopro d’ aurora
Como
o sal das sarças reveladoras
Calemo-nos
calemo-nos há em qualquer lado
Um
coração que chora sobre um coração
Pela
última aventura
Pelo
tumulto total
Calemo-nos
nada pode recomeçar
Esqueçamos
as lâmpadas as horas sagradas
Esqueçamos
os fogos-fátuos do dia
O
nosso prazer nos arruína
Mais
baixo ainda meu amor
Ah
mais baixo meu querido amor
Estas
coisas devem murmurar-se
Como
entre dois moribundos
Logo
deixaremos de querer distinguir
A
franja de rugas nos nossos rostos
Ah
olhemos o cintilar das estrelas
Mesmo
no segredo de nossos dedos
Fitemos
tudo o que recusa
O
ouro destruído da lembrança
O
belo quarto de outros tempos
E
seus braços de faíscas surdas
Calemo-nos
esqueçamos tudo
Afoguemos
as palavras mágicas
Preparemos
as nossas ternas cinzas
Para
o grande silêncio inexorável
(in
Rivages de l’ Homme, 1948)
(Traduções
de Ruy Ventura)
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