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Nicolau Saião, Mariana 1

 

ALINA PAIM*

 

(Zozimo Lima)

 

Está ai uma escritora sergipana de muito talento, filha de Simão Dias que eu, como muitos dos nossos conterrâneos, desconhecia até agora.

 

Chama-se ela Alina Paim, nasceu na terra de Ranulfo Prata, passou a meninice em Estância, e, depois, seguiu para o Rio, onde, além de professora, firmou a sua reputação como novelista de primeira água, que não, ficou aquém de Raquel de Queirós, Dinah Silveira, Lúcia Miguel Pereira e Lúcia Benedetti.

 

Alina Paim, que é ainda muito moça pelo que constato da fotografia, já escreveu três romances, festejados pela imprensa: Estrada da Liberdade; Simão Dias e A Sombra do Patriarca, agora mesmo editado pela Livraria Globo, de Porto Alegre.

 

A Sombra do Patriarca, que obedece ao mesmo tema de Estrada da Liberdade, é a dolorosa via-sacra da classe proletária, vítima da injustiça social do capitalismo com o seu poder absorvente, os seus preconceitos baseados na divisão de classe e na herança de títulos de nobreza que, pouco a pouco, diante da acelerada marcha socialista, vão caindo esfrangalhados.

 

Há, ainda, por aí, tocaiado nos alpendres de “casa grande” quem alimente ilusões de que estes restos de fidalguia, mantidos à força de dinheiro conseguido a exploração de trabalhador se manterão ainda por dilatado tempo.Engano manifesto. Não há de ter a avalanche que destruirá as barreiras que separam a miséria da riqueza. Não será a barbárie stalinista com os seus sangrentos expurgos que fará melhorar as condições de vida da humanidade.

 

É o próprio homem, cansado de sofrer, abroquecido na fé religiosa dos seus antepassados, que se revoltará para a conquista da felicidade não fluida por aqueles ambiciosos, individualistas que olvidaram as advertências do apóstolo Thiago.

 

É impossível que no mundo continue por mais tempo a desigualdade humana no que tange ao bem e mal estar. Uns comem, outros passam fome. Uns vestem, com opulência, outros andam quase nus. Nos hospitais, outros andam quase nus. Nos hospitais há quartos com instalações de luxo asiático que são um insulto à enxerga no salão promiscuo onde geme o enfermo indigente que tem também direito à vida mas não tem dinheiro.

 

É mister por fim ao egoísta opulento, de mentalidade medieval, que adquire com o dinheiro arrancado aos pobres, ao trabalhador de enxada, ao carregador do cais, ao caixeiro do armazém, ao supersticioso, vastas terras para proveito próprio com prejuízo da pobreza que nelas habita muitas anos e é expulsa sem a piedade pregada por Jesus.

 

A sombra do Patriarca, de Alina Paim, é o quadro vivo das vidas em conflitos, em que a opulência acaba sendo derrotada pelas forças coesas de uma classe que um dia entendeu de reivindicar ancestrais direitos postergados.

 

 

(Aracaju, Correio de Aracaju, 24. nov. 1951.)

 

 

*Texto enviado por Gilfrancisco

 

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