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Nicolau Saião

 

 
(W. B. Yeats)
 
I
 
Percorro a longa sala, a perguntar;
Responde-me gentil e velha freira;
As crianças aprendem a somar,
E a cantar e a ler – livros e costura,
E a ter bons modos, e a se comportar,
Do jeito mais moderno – as crianças miram,
Em momentâneo espanto ante a visão
De um homem público já sessentão.

 

 
II
 
Sonho um corpo ledeano, debruçado
Sobre um fogo que esmaece, a história escuto
De dura repreensão, um quase nada,
Mas que um dia infantil cobriu de luto –
E senti nossas índoles mescladas
Num globo juvenil de atração mútua,
Ou, buscando em Platão sentido novo:
Como se a gema e a clara de um mesmo ovo.

 

 
III
 
E pensando em tamanha mágoa ou ira
Olho para uma ou outra das crianças,
A imaginar que ela assim fora um dia,
Que até a filha de um cisne das heranças
De um remador qualquer partilharia,
E se teve tal cor na face e tranças,
E então meu coração salta e estremece:
Como criança ante mim ela aparece.

 

 
IV
 
Sua imagem atual me vem à mente –
A mão do Quattrocento a modelou,
De rosto cavo como a ingerir vento
E algum montão de sombras no seu vôo?
E eu, do ledeano sangue embora isento,
Tive plumagem bela – e basta, vou
Sorrir a tudo o que sorri, forjando
Um tipo de espantalho velho e brando.

 

 

V

 

Que jovem mãe, sobre o colo uma forma
Que o mel da geração tivesse traído,
Que chora e grita, e por fugir se estorce,
A lembrança ou a droga é que o decidam,
Acharia em seu Filho, vendo-o agora
Com mais de sessenta anos já vividos,
Compensação da dor de o ter gerado
Ou da incerteza de o ter educado?

 

 

VI

 

Natureza em Platão é só um rasto
De espuma sobre o arquétipo espectral;
Mais sólido, Aristóteles vergasta
De um rei de reis o lombo bem real;
Pitágoras, porém, de coxas áureas,
Sobre um arco de viola viu sinal
Do que canta uma estrela e as Musas sabem:
Velha haste e trapos para espantar aves.

 

 

VII

 

Mães e freiras cultuam as imagens,
Mas as que mostra a luz não são como essas
Que de uma mãe animam as visagens,
Mas como a pedra e o bronze mais espessas.
E pungem por igual – ó realidades
Que conhece a paixão, a mágoa, o afeto,
E tudo o que é celeste simbolizam –
Ó trocistas cruéis da humana empresa;

 

 

VII

 

O trabalho não pode florescer
Onde em prol da alma o corpo sofre em vão,
Nem a beleza advém do padecer,
Nem o saber da insônia ou da exaustão.
Ó bem plantada e flórea castanheira,
És a folha, és o tronco, és o botão?
Visão brilhante, ó corpo que se anima,
Como isolar da dança a dançarina?

 

 

(Tradução de Renato Suttana – abril/2006)

 

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