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Kurt Schwitters, Formas no espaço

 

POEMAS

 

(Wladimir Saldanha)

 

 

SONETO DO SIRI

 

para Renato Suttana

     

Siri, coberto de areia,

tua veste maltrapilha

em si mesma é armadilha:

há teu olhar, que vagueia...

 

Patola, pachola,

esses teus olhos de fora,

de fora, mas imersos –

aguardam apenas a hora

 

da tua pesca ascendente!

Pescas pro alto, pra cima

olhos de fora e imersos ,

 

como o poeta de repente,

súbito pesca uma rima

acima da linha dos versos.

 

 

 

MARINHA COM CACHORROS

 

Vi-os latirem para o mar,

treparem nas pedras que se empilham

no sopé do Mont Serrat

enquanto branquejavam murada

e bastiões do velho forte, feito museu.

Vi-os, cachorros, compondo seu balé de ferozes,

cheirando o quê, de meio à maresia,

era almíscar de fêmea, certeza de prole,

corneta indeclinável,

inodora para mim.

Vi-os maquinando a matilha

de focinhos de virilhas

e, de estéreis rochedos,

urdindo promíscua ilha.

Não os vi chegar. Mais cedo,

que eu, que transitava à toa,

teriam eles, cães, sido impelidos

a desertarem ruas, deveres de guarda,

ossos de aves. E gatos. E desertaram,

e o séquito

rumara colorido para a praia.

 

Ladravam para as ondas – vi-os. E as ondas

brigavam entre si, elas alheias:

Cães são navios. Eles, úmidos,

mantinham-se ali, caninos porém:

como salgando-se...  Até

que desciam; mas subiam novamente

– eu sem entender. Às vezes,

um a outro abocanhava, mas irado,

não apenas por mostrar-se.

 

Era de tarde: trezentos e tantos da invasão holandesa.

 

Grato, mui grato,

o portentoso forte,

com seus fantasmas, com seus canhões apontados para o poente,

guarnecia o cio.

 

 

 

DALVA E AS FLORES

 

No museu. Olha a natureza morta 

Que aquele artista fez como um delírio:

Olhando a tela, meio tola e absorta,

O jarro a lhe evocar ardente círio,

 

Reconhecia, na moldura torta,

A rosa sua, a gérbera, o seu lírio;

E enquanto o pensamento se reporta,

Pressente que enxergar é um martírio...

 

No seu jardim. Olha a excessiva malva:

A corola tão farta, a cor intensa,

Exemplo de um excesso sem ressalva...

 

E observando-a, num momento, pensa

Que o pintor teria igual – pensa Dalva –

Ou toda flor foi malva em sua crença.

 

 

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