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CERTO
FOGO...
(Paul Valéry)
Certo fogo arde em mim, e eu vejo friamente
Esta vida brutal de todo iluminar-se.
No mais profundo sono é que amarei, somente,
Seu gracioso agir, que à luz vai misturar-se.
Meu dia restitui-me a noite do supor,
Depois que o sono desditoso me dissolve.
Quando a própria desdita é parte do negror,
De novo ele me vive e os olhos me devolve.
Que, se fulge a alegria, o eco em que me desperto
Nesta praia da carne um morto há de lançar,
E em meu ouvido o meu riso estrangeiro, incerto,
Como no oco da concha um murmúrio do mar,
Duvida – no limiar do extremo desconcerto,
Se sou, se fui, se durmo, ou se estou a velar?
(Tradução
de Renato Suttana. Proibida a reprodução sem
autorização.)
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