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Francis Picabia, A noiva

 

Meninas do sertão

 

(Ronaldo Braga)

 

As mãos cansavam ladainhas em recorrentes febres, e a morte de todos os desejos calava o mundo anil das meninas enjauladas, e anseios e suspiros insistentes negavam tristezas nas peles eriçadas de sonhos, em um mundo de devaneios, desdenhando futuros em luas roucas, com seus medos a transitarem soltos nos dias negros do querer.

 

Elas postulavam silêncios em olhares atrevidos e palavras surdas reentravam desejos em corpos esquecidos.

 

Ao longe, romeiros praguejavam amores e suas musicas eram ameaças à vida. E ódios reativados, e impotências, desfilavam nos humores dos perdedores funestos e malditos, com suas sinfonia de mortos. Pássaros caminhavam melancolias em passos úmidos e cheiros de amor e canções embriagavam encontros de outrora. As mãos cansavam odores e os olhares teciam esperanças nas raízes loucas e hemiplégicas e os corpos esquivos de imanentes eretísmos suavam negações nos cantos inelutáveis e constitutivos de todo sofrer. E sofrer era a salvação e a vida, naquelas mãos eróticas de cantar salmos e preces, com seus loquazes medos a transpirarem sexo por toda terra fatigada de sangue e ferro e dor e fome. As mãos suspiravam descansos e entregas nos montes noites de estrelas cruéis e violetas, as mães suspiravam desprezos e em recônditos pensamentos amores invadiam anomalias e ventres e as faziam sorrir terra e cores e rios e passados. As meninas em clivagens serenas, cantavam medos desérticos e amores sonhados em úmidas palavras vãs, e escondiam as mãos com seus rostos de prazeres invertidos e insulares, nos tempos soltos e movediços, a escurecer gozos e tremerem sonos nas noites sem esperas, de ausentes beijos, a chorar lamas em camas frias, e sonharem céus e deuses numa desesperada peleja de peles e mãos, cantando esperanças, e roubando salvações de um sono concupiscente. Seus sonhos perdiam alegrias e as faziam expulsar homens e bichos e mortes, e para sempre silêncios. Pesadelos difratados rompiam noites e flores tristes buscavam jardins em cactos polimorfos e gentis.

 

As meninas dormiam cruzes e os meninos masturbavam salmos em correrias anêmicas. Um silêncio quente resfriava sentidos no sertão brasileiro.

 

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