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Meninas do sertão
(Ronaldo Braga)
As mãos cansavam ladainhas em recorrentes
febres, e a morte de todos os desejos calava o mundo anil das meninas
enjauladas, e anseios e suspiros insistentes negavam tristezas nas peles
eriçadas de sonhos, em um mundo de devaneios, desdenhando futuros em luas
roucas, com seus medos a transitarem soltos nos dias negros do querer.
Elas postulavam silêncios em olhares atrevidos e
palavras surdas reentravam desejos em corpos esquecidos.
Ao longe, romeiros praguejavam amores e suas
musicas eram ameaças à vida. E ódios reativados, e impotências, desfilavam
nos humores dos perdedores funestos e malditos, com suas sinfonia de mortos.
Pássaros caminhavam melancolias em passos úmidos e cheiros de amor e canções
embriagavam encontros de outrora. As mãos cansavam odores e os olhares
teciam esperanças nas raízes loucas e hemiplégicas e os corpos esquivos de
imanentes eretísmos suavam negações nos cantos inelutáveis e constitutivos
de todo sofrer. E sofrer era a salvação e a vida, naquelas mãos eróticas de
cantar salmos e preces, com seus loquazes medos a transpirarem sexo por toda
terra fatigada de sangue e ferro e dor e fome. As mãos suspiravam descansos
e entregas nos montes noites de estrelas cruéis e violetas, as mães
suspiravam desprezos e em recônditos pensamentos amores invadiam anomalias e
ventres e as faziam sorrir terra e cores e rios e passados. As meninas em
clivagens serenas, cantavam medos desérticos e amores sonhados em úmidas
palavras vãs, e escondiam as mãos com seus rostos de prazeres invertidos e
insulares, nos tempos soltos e movediços, a escurecer gozos e tremerem sonos
nas noites sem esperas, de ausentes beijos, a chorar lamas em camas frias, e
sonharem céus e deuses numa desesperada peleja de peles e mãos, cantando
esperanças, e roubando salvações de um sono concupiscente. Seus sonhos
perdiam alegrias e as faziam expulsar homens e bichos e mortes, e para
sempre silêncios. Pesadelos difratados rompiam noites e flores tristes
buscavam jardins em cactos polimorfos e gentis.
As meninas dormiam cruzes e os meninos
masturbavam salmos em correrias anêmicas. Um silêncio quente resfriava
sentidos no sertão brasileiro.
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