POEMAS
(Ronaldo Braga)
O
corpo sem órgãos
O
que nos calam?
Segredos
bobos, bolos?
Ou
a luz nos olhos dos mortos?
Por
que somente eu vejo
o
chumbo torto
no
teu amor manero.
O
que se cala na vida
foi
sempre e ainda
os
toques.
Mas
no espelho
inverso
transversal do meu não-ser
entre
o querer e o não querer
das
sobras e das cautelas
nasce
o corpo quente
em
pele fria.
E
se é somente e exatamente
faltas.
Mas
por
e tambem
qualquer
outro lado
apenas
retoques.
Eu vou à praia, meu bem,
Cantar amargas flores e lembrar do néctar
de teus
fartos peitos.
Desde cedo, meu bem,
aprendi
a esperar
em doidos porres,
teus solenes momentos,
e
ir à praia, meu bem,
comer as cores da noite...
Meu bem,
que me importa
sua boca
a me olhar de dentro do nada.
Aprendi
esperar
na insensatez dos teus beijos
uma azul onírica tarde sangrenta.
Meu bem,
eu sei de seu desejo mórbido por orquídeas e
laranjas,
e sei do teu amor imundo,
em velhas doces canções.
E sei:
as arvores verdes
choram tua partida,
imaginando esperas
nos cumes das madrugadas.
Eu,
meu bem,
sorria dores nos teus abraços meigos.
Enquanto os bêbados dormiam com todas as deusas.
(in para todos os amores não acontecidos)
Cintilâncias escuras
Uma poesia desnudando cintilâncias opacas,
nas falsas noites fervilhantes de brilhos
escuros,
estupidamente rejeitando a paixão sem vergonha
dos jardins do poeta.
Uma poesia despetalando zoófitos nas
similitudes,
rasgando noites de recôncavo e
reencontrando as noites bêbadas nos absintos
impositores e decididos.
Uma poesia-palavra sem semelhanças,
destronando e coroando significados e
significantes nos vazios ocos,
morada e desprezo dos loucos primeiros.
Um poema sujo, desgrenhado,
despencando alturas em uma altivez capenga.
Uma poesia surda-assassina,
um sentimento-perigo,
traindo todos os fustes solitários e inútil,
Inútil traço latitudinário das emoções.
Sinais sem abrigo.
Uma poesia: perdição dos deuses envergonhados e
das mulheres, embustecidas e coloridas nas vargens esquecidas das falsas
noites cintilantes. Que grite.
Que faça.
São palavras indizíveis penetrando a carne
insensata.
Um amor inadvertido e traidor.
Possesso processo de corte.
Aparição desalmada,
E desesperada de uma alma em um insistir –
desalento,
Desabrochando aos borbotões, fluxos invernosos
que extrapolam os verões e assassinam todos os beijos.
Uma poesia que grita o murmurar não compreendido
dos amantes,
Fiéis unicamente ao seu amar.
E desafia o cantar surdo das notas insistentes.
Vida não por clemência, mas, por potencia.
Como ruminar força,
E teima a derrota da morte:
Por viver e viver e viver.
Uma canção aos corações soturnos e delicados
Dormindo nos cactos
E bebendo o silencio do veneno,
Na noite em que os imbecis clamavam clemência
E matavam o amor
E expulsavam para longe de seus fígados o gosto
amargo da felicidade:
Eles querem o doce,
E a flor de láudano lhes indicou:
A inutilidade do mel;
E a desaparição do amor no amar comum.
Uma flor espinho
Onde o poeta dorme o sono das crianças dos
desertos sombrios
E pode conversar com suas almas nada
lamurientas.
Uma flôr invisível, onde o poeta eterniza a
alegria sem alarde.
E sem desespero descobre o perigoso – raivoso –
impotente povo cansado.
Esquivos beijos reincidem momentos martelados em
olhares surdos,
E cortejos imemoriais insistem desejos, antes
tão secretos, tão desconhecidos.
E um vir teimoso nos chama. Pra onde?
Esquivos monstros persistem na carne tremula,
E arrogantes algas trancam sorrisos em beijos
sofridos.
Você passado em ausentes segredos funestos e
secretos,
E você presente em dispositivos legais.
E medos ocultos afloram inflexões agudas em
imanentes remanências outonais,
E você futuro sorrindo rejeições de uma fatal
fuga das flores,
Com suas noites irrefragáveis, e seus suores
afogando peles e agitando sonhos,
E acordando meus pesadelos de águas cansadas,
Gritando e gritando saudades de afogados.
E você - você ali como um nada - tudo material e
cisão de mundos.
Cisão de carne e dentes dantes sorrisos e
livres.
Agora Esquivo tempo caução de tudo.
E cruel, nas nuvens pesadas de minhas noites
lembranças,
Numa intensa dissimulada diminuição assintótica
do condenável viver,
E sorrir condenável e ser condenável.
Bailado numa dança de mortos.
Realidade imposta nos corações outrora
difratados em indiscretos beijos.
E você fragmentando calmas para sempre
esquecidas
E você ausente em perigosas interrogações,
Jurando interditos amores passados – presentes e
perdidos nos sentidos frívolos, Enquanto incessantes vazios e culpabilidades
produzem cortes nos destemidos horrores matrimoniais.
E nas noites preconcebidas,
Deleitam sutis perversões
E povoam medos e traduzem certezas infelizes de
transgressões.
E estratégia é fuga na homogeneidade formal de
uma vida.
Principio e instancia:
Das luas;
E chuvas;
E sonhos;
E beijos buscados nos desesperos dos encontros
inadvertidos e não censuráveis.
Você água, diluindo tempos e cantando gerânios
em raios caiados.
Você musica ritmando um mundo de cores brutais
em oscilantes precipícios.
Você pontes de caladas gerações.
Você, apenas, você.
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