Madrigal
de Símbolos
(Ovalle
Lopez)
l.
As
minhas mãos são de milho. E nelas mora
um
hálito terrestre
e
os segredos da argila aí palpitam
co’a
umidade dos peixes vegetais.
E
a minha fronte é de milho. E sonho a paz
do
sulco verdejante e iluminado
coroado
pelas canas verticais
linear
templo de açúcar e de febre.
E
é de milho o meu cérebro. Eu penso com as veias
acústicas
e fortes
como
um ressuscitado intemporal
que
nos cravos escondera a sua voz.
E
eis de milho os meus lábios. Cantando sem
a
fria corola da morte
anunciando
os voos da farinha
com
uma suave e rústica serenidade.
E
os sonhos são de milho, os que em mim vivem:
homem
de antanho, de agora, homem de sempre
no
único atavismo que floresce
–
milho de amor, sustento das nascentes.
2.
Ninguém
irá negar que o rouxinol
na
garganta possui do milho a luz
E
que a estrela nocturna e silenciosa
tem
asas no olhar que milho são
E
que no rio, no mar e no oceano
sal
e milho nas águas se casaram
Que
com milho semeou Rubén Dário
a
ardente papoila em Nicarágua
Que
como ferido caule se quebrou
o
milho da Espanha – Garcia Lorca
E
que em homens de milho se constrói
a
pátria espiritual da Guatemala.
Oh
salve! milho amável, pão da América
refúgio
e catedral da esperança!
(in
“A coroa da vida”,
antologia)
(Tradução
de Nicolau Saião)
Nota
do Tradutor: Werner Ovalle Lopez, de seu nome completo, nasceu
em Salcajá, pequena aldeia do ocidente da Guatemala. Embora não
estivesse integrado no movimento poético “Saker-Ti”, alguns dos
seus versos vieram a lume nas publicações desse grupo. O seu
melhor poema, o extenso “O nosso pai milho”, donde extraí
alguns passos, foi galardoado no concurso Gay Saber de
Quetzaltenango. A poética de Ovalle Lopez, simples e bela, exerceu
grande influência em muitos poetas modernos guatemaltecos.
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