A
MINHA RESPOSTA AO QUESTIONÁRIO
(Nicolau
Saião)
1.
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Posso escolher três? Aí vão: "O homem da montanha" de
Dino Buzzati, "As minas de Salomão" de Ridder Haggard -
mas não na tradução (incompleta) revista pelo Eça, que é à
portuguesa curta - com as encenações duma rota para todas as
viagens: "Fui-me deitar. E levei toda a noite a sonhar com o
deserto, diamantes e animais ferozes e com o infortunado aventureiro
morto de fome nas vertentes geladas dos montes Suliman" e as páginas
marcadas a fogo de "O pássaro pintado" de Jerzy Kosinski.
2. Já alguma vez ficaste apanhadinho por uma personagem de ficção?
Sim, por várias: o Axel Munthe de "O livro de San
Michele", o sir Charles Ravenstreet de "Os mágicos"
de J. B. Priestley, a mrs. Dolloway
de Virgínia Woolf, o Herbeleau de Jean Husson... E
porque não o Danny April de Bill Ballinger, na sua busca
desesperada da pureza e do amor absoluto no magnífico thriller
"Versão Original"?
3. Qual foi o último livro que compraste?
Foram quatro e não um - e todos em espanhol (há já muito tempo,
por uma questão de "localização", que não compro
livros em língua portuguesa, essa tarefa está agora reservada a um
dos meus filhos): "El viaje de Simbad" de Tim Severin,
roteiro muito real (as costas do Malabar... as terras de Oman...)
construído sobre os mapas do ficcionado aventureiro árabe; o
"Dalí" de Lluís Llongueras acabadinho de sair na
Ediciones BSA; o "Mentiras fundamentales de la Iglesia Católica",
uma análise séria e competente de Pepe Rodríguez também na BSA;
as "Prosas" de Cláudio Rodriguez, onde se arrola em menos
de 300 páginas (é o suficiente...) tudo o que o grande poeta nos
deixou; e, como que fazendo parte do pacote, as suas
"Poesias" oferecidas na horinha...
4. Qual o último livro que leste?
"Os grandes cemitérios sob a Lua" de Georges Bernanos.
5. Que livros estás a ler?
Como leio/releio vários ao mesmo tempo posso dizer três? "Os
filhos do capitão Grant", de Verne; "A costa das Syrtes",
de Gracq; "A vida essa aventura" do grande biólogo Jean
Rostand.
6. Que livros (cinco) levarias para uma ilha deserta?
Depois de meditação algo aturada: "A ponte sobre o Drina"
de Ivo Andric, tributo ao real, ao sonho e à sua mútua
interpenetração; "Alain Decaux raconte" - tributo à
História, para não perder o continente; "A montanha mágica"
de Mann, tributo ao exactamente porque sim; "Os triunfos de Eugène
Valmont" de Robert Barr, para manter na ilha o champanhe
gelado; e "En compagnie des vieux peintres" de Léo
Larguier, para saber ver o horizonte enquanto esperava o barco que
me levaria definitivamente de regresso. (Passado sob as barbas dos
guardas-marinhas, o "Diário" do Amiel na edição
velhinha - a mais completa - da Stock).
7. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
Ao Ruy Ventura porque é, onde está, um isolado rochedo destes rincões
alentejanos. Ao Renato da excelente página brasileira "O
Arquivo de Renato Suttana, por ser um pesquisador intemerato. Ao
Floriano Martins da "Agulha",
porque Fortaleza também é a minha debilidade...
Publicado
no Quartzo, Feldspato & Mica, em 9 de junho de 2005
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