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António Garção, Canções do bosque

 

RÉGIO E OS ESCRITORES BRASILEIROS

 

(Nicolau Saião)

 

Que Régio foi apreciado e admirado por muitos escritores brasileiros é ponto assente. De Manuel Bandeira a Ribeiro Couto (que ele celebrou em comovido texto inserto no livro de homenagem póstuma ao poeta que conhecera em Portalegre numa noite singular), de Moreira da Fonseca a Cecília Meireles (que o antologiou com palavras à sua altura de excepção), de Jorge de Lima a Graciliano Ramos – diversos foram os autores do país irmão com quem trocou livros e menções de apreço. A sua atenção à literatura brasileira era consequência da sua atenção ao mundo das letras, que nunca esmoreceu ao longo dos anos que lhe coube viver.

 

Detenhamo-nos um pouco sobre as dedicatórias, de três dos escritores citados, inscritas em livros remetidos a Régio ao longo do tempo. Elas trazem em si não só o selo da admiração mas, também, facultam pistas que nos permitem descortinar em que medida ou de que forma se perspectivava o seu interesse pelo autor de “Davam grandes passeios aos domingos…”.

 

Na edição aumentada de “Poesias completas”, da Americ.Edit., remetida a Régio em 1945, a dedicatória é a seguinte: “A José Régio – grande poeta de Deus e do Diabo – com o fraterno abraço do Manuel Bandeira. O acento tónico é posto nos dois pólos que tanto moviam o misticismo de José Régio, os dados maiores do problema com que se debateu enquanto ser de religiosidade. Ao chamar a atenção para tal, Manuel Bandeira trazia à colação um dos pontos a que era o autor de “Mas Deus é grande” extremamente sensível, empenhado e indagador, sublinhando assim uma característica do seu pensamento e da sua poética.

 

Cecília Meireles, que em “Poetas novos de Portugal” (Edições Dois Mundos,1944) via em Régio um temperamento “dramático, oratório, gritando suas amarguras, discutindo-as com interlocutores que o ouvem da lama e das estrelas, falando-se e respondendo-se em voz alta, em monólogos arrebatados e arrebatadores”, inscreve no seu livro “Mar absoluto e outros poemas” a seguinte dedicatória: “A José Régio, essa veemente voz da poesia do mundo, com estima. A tónica é posta pois na veemência, na força interior que atravessava o verbo de Régio, autor que ela entendia fazer parte da poesia do mundo, do universo da escrita maior que era o seu timbre. Para quem conhece a obra de Cecília Meireles, toda ela percorrida de atenção ao absoluto, percebe o que lhe subjaz e de que matéria é feito esse olhar e essa admiração.

 

A dedicatória de Moreira da Fonseca, um dos grandes poetas modernos do Brasil, cuja voz permanece pura e límpida, ática, definidora – e decerto permanecerá – é mais sucinta mas não menos significativa. Reza assim: “A José Régio, com viva admiração, of. o José Paulo Moreira Fonseca”. Está inscrita no livro “Poesias”, dado a lume em 1949 pela Livraria Editora José Olympio e foi enviado a Régio em Março de 1950. O que ela nos mostra é uma funda atenção de um dos – à altura – poetas novos do Brasil que, apesar de diferente nos seus temas e nos seus métodos de escrita, sabia compreender e apreciar a demanda poética e por isso vital do autor de “A velha casa”.

 

De entre outros, aqui ficam estes três exemplos do amor que a escrita de Régio despertava nesse país – distante geograficamente mas bem perto dele dum ponto de vista literário e humano.

 

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