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RÉGIO
E OS ESCRITORES BRASILEIROS
(Nicolau Saião)
Que Régio foi apreciado e admirado por
muitos escritores brasileiros é ponto assente. De Manuel Bandeira a
Ribeiro Couto (que ele celebrou em comovido texto inserto no livro
de homenagem póstuma ao poeta que conhecera em Portalegre numa
noite singular), de Moreira da Fonseca a Cecília Meireles (que o
antologiou com palavras à sua altura de excepção), de Jorge de
Lima a Graciliano Ramos – diversos foram os autores do país irmão
com quem trocou livros e menções de apreço. A sua atenção à
literatura brasileira era consequência da sua atenção ao mundo
das letras, que nunca esmoreceu ao longo dos anos que lhe coube viver.
Detenhamo-nos um pouco sobre as dedicatórias,
de três dos escritores citados, inscritas em livros remetidos a Régio
ao longo do tempo. Elas trazem em si não só o selo da admiração
mas, também, facultam pistas que nos permitem descortinar em que
medida ou de que forma se perspectivava o seu interesse pelo autor
de “Davam grandes passeios
aos domingos…”.
Na edição aumentada de “Poesias
completas”, da Americ.Edit., remetida a Régio em 1945, a
dedicatória é a seguinte: “A
José Régio – grande poeta de Deus e do Diabo – com o fraterno
abraço do Manuel Bandeira”.
O acento tónico é posto nos dois pólos que tanto moviam o
misticismo de José Régio, os dados maiores do problema com que se
debateu enquanto ser de religiosidade. Ao chamar a atenção para
tal, Manuel Bandeira trazia à colação um dos pontos a que era o
autor de “Mas Deus é
grande” extremamente sensível, empenhado e indagador,
sublinhando assim uma característica do seu pensamento e da sua poética.
Cecília Meireles, que em “Poetas
novos de Portugal” (Edições Dois Mundos,1944) via em Régio
um temperamento “dramático,
oratório, gritando suas amarguras, discutindo-as com interlocutores
que o ouvem da lama e das estrelas, falando-se e respondendo-se em
voz alta, em monólogos arrebatados e arrebatadores”, inscreve
no seu livro “Mar absoluto e outros poemas” a seguinte
dedicatória: “A José Régio,
essa veemente voz da poesia do mundo, com estima”.
A tónica é posta pois na veemência, na força interior que
atravessava o verbo de Régio, autor que ela entendia fazer parte da
poesia do mundo, do universo da escrita maior que era o seu timbre. Para quem conhece a obra de Cecília
Meireles, toda ela percorrida de atenção ao absoluto, percebe o
que lhe subjaz e de que matéria é feito esse olhar e essa admiração.
A dedicatória de Moreira da Fonseca, um dos
grandes poetas modernos do Brasil, cuja voz permanece pura e límpida,
ática, definidora – e decerto permanecerá – é mais sucinta
mas não menos significativa. Reza assim: “A
José Régio, com viva admiração, of. o José Paulo Moreira
Fonseca”. Está inscrita no livro “Poesias”, dado a lume em 1949 pela Livraria Editora José
Olympio e foi enviado a Régio em Março de 1950. O que ela nos
mostra é uma funda atenção
de um dos – à altura – poetas novos do Brasil que, apesar de
diferente nos seus temas e nos seus métodos de escrita, sabia
compreender e apreciar a demanda poética e por isso vital do autor
de “A velha casa”.
De entre outros, aqui ficam estes três
exemplos do amor que a escrita de Régio despertava nesse país –
distante geograficamente mas bem perto dele dum ponto de vista literário
e humano.
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