Home Poesia Prosa Traduções Colaborações Arquivo Contatos

Bem-vindo à homepage de Renato Suttana.

Pablo Picasso

 

O VENTO

 

“O vento, diz um deles

e sorri”

(in Flauta de Pan)

 

No começo era o vento:

o vento da chuva, o vento do sol

o vento só vento ou não mais do que um sopro

na cara   no corpo ou à esquina das casas

 

O vento das palavras e o vento que se lembra

ou que se esquece   e nos faz pensar

em manhãs de vento, do vento que vem

de noite e atormenta

e nos rouba de súbito

todas as memórias, todos os minutos.

 

Vento

das árvores e dos desejos

vento vulgar   vento da solidão

agora já só vento de vazios ou de presenças idas

vento duma ave que passa

vento duma voz que já se não ouve

vento que se ouve ao longe

vento dos anos   vento nas mãos que se não tocam

vento de tudo o que morreu.

 

Vento que não existe

que nunca existirá

vento das folhas que ondeiam no ar

vento das folhas dos livros nunca escritos

vento que pára de repente e cresce em nossa volta

e nos ensina os pontos cardeais

e nos faz erguer o rosto e olhar o horizonte

vento de coisas ao vento   de momentos tão nossos

vento do mar na nossa cabeça inclinada.

 

Vento que sabe nascer nas florestas

nos desertos e nas ruelas

vento que sabe matar nas cidades

vento que corre em todo o tempo   em todo o mundo

vento que é só remorso

só um sinal

 

só o sinal que jamais tivemos

de vento que rola no nosso perfil desfeito.

 

 

(in Antologia sobre o vento)

 

Retorna ao topo

Outros escritos de Nicolau Saião