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Nicolau Saião

 

POEMAS DEDICADOS

 

(Moacir Eduão)

 

 

POEMA PARA SER RECITADO EM PORTUGUÊS


Dedicado a Dalva Contar

Tenho perguntado aos deuses
se eu venho a meus amores
com boas intenções.
A resposta é sempre nula,
é como uma porta aberta
em que, à beira dela, minha dúvida empaca.

Partilho da esperança da descoberta,
como um português sentimental, lírico, fabular.

Ouço um fado, não pela música,
mas pela minha intimidade que ela toca.
Meu coração, com seu encordoado de aço,
vibra participando da última orquestra do tempo,
executando os sons cuja divindade esconde dos mortais.

Nunca tive tempo para questionar
minha intencionalidade com nada,
nunca tive nada que me proporcionasse revolta bastante para machucar.
Se mato meus amores, a culpa é de suas esperas.
Nunca prometo o meu mundo a ninguém.
Queira, apenas, o mar me entender.
Eu não o entendo, mesmo assim, nos damos muito bem...
Chego à sua beira, escuto a sua música, depois vou embora... E ele não me cobra nada.
Nós, poetas de língua portuguesa,
invejamos os franceses num ponto:
no porto, seus poetas miram uma donzela: la mer.

 

 

 

 

Dedicado ao amigo poeta Miguel Carneiro

 

Passado o tempo das bolas de gude
em que eu era o sargento de meu mundo,
sacudi a cabeça, franzi a testa,
festejei, inocente, as novidades.

Em tudo, a lembrança do tempo em que eu incomodava...
O tempo em que eu tinha o direito de dizer "com tudo e sem nada".
O respeito de meus adversários, a distância dos "topes",
a caixa de brinquedos com uma centena de Terras azuladas.

Freqüentei minhas férias da escola, sem iates, sem contas, sem a saudade

nem a consciência dos amores;

sem saber que os amores são feitos de outros lugares
e não das arenas da minha infância.

Vivi olhando os aviões, fazendo pipas,
o que agora é crime. O céu era das minhas aves de papel,
agora é da companhia elétrica.

Tornar-me criança, mesmo nos feriados, é fato consumado
da minha insanidade. Sou filho de que Lei, meu Deus?

Estou devolvendo aos deuses a vida adulta e as rugas.
Vende-se uma solidão organizada e rica de detalhes,
ou troca-se por cem bolas de gude sujas da argila da Lagoa do Barro.
 

 

 

 

A Sylvana Garcia

 

Enquanto o Sol se encaminha
a flor o segue, a mirá-lo.
No final do dia,
sobra um pôr-do-sol...
e um girassol que dorme dono de sua primavera.
 

 

 

Poema para Andreia Vieira
 

O pequenino,
feito gente grande...
Escarreira, escreve seu nome nas encruzilhadas,
aponta as escolhas que o universo deve seguir...

Apronta travessuras comuns...

Adora madrugadas;
sente febre quando vê estrelas;
sente-se louco em Lua cheia;
colhe astros e os põe no bolso.

Como um colecionador de borboletas,
registra, calcula, cataloga...
patenteia todas as descobertas.

Quando sente sede, apara cachoeiras;
quando chora,
as flores
colhem sua tristeza.

Quando ri... Quando ri, destrona as majestades...
Quando ri... provoca aos deuses,
pois passa a fazer parte da divindade.

 

 

 

Poema a uma desconhecida: Ciça Rodrigues

 

A Beleza de que falo
não está no olho.
Não está meramente
na alegria extrema da alma
de quem te observa.
Não está na distância
sugerindo a saudade que não tenho ainda.
Nem está no brilho das tintas que te desenham.

A Beleza, em você, é puramente
aquilo que eu encontro
a fim de fazer este poema.
Não é por amor.
Fazendo um poema
mantenho a minha alma.

Por isso, não se importe
se não te conheço.
Não imagine a minha paixão.
Imagine a minha alma,
pois ela se sustenta de momentos como agora.
Momentos breves, e para nunca.
Momentos que findam, eu sei,
como o poema finda.

 

 

 

Moacir Eduão nasceu em São Gabriel – Ba, em 1975. É professor e poeta, licenciado em Letras pela UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana). Membro fundador da Academia de Letras de Irecê. É autor de Ao Tempo (in memoriam), em 2003. Participou de Os Outros Poemas de que Falei (2004), antologia elaborada pelo Banco Capital. Publicou artigo na revista literária Latitudes, Paris – França. Encontra-se no prelo, de sua autoria, Desespaços, seu quarto livro de poemas.

 

Perfil no orkut: http://www.orkut.com/Home.aspx?xid=9782143125398812687

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