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Nicolau Saião

 

A POESIA COMBATENTE DE ANTÔNIO LINS

 

(Miguel Carneiro)

 

“Os poetas são os legisladores desconhecidos do mundo.”

Percy Bysshe Shelley

(1792 – 1822)

 

 

Conheci a poética de Antônio Lins através do bardo maior da Bahia na contemporaneidade, o grapiúna da Fazenda São Carlos, Ildásio Tavares, e com a gentileza inerente do povo baiano, recebi pelos Correios da “Terra da Garoa”, Amores Partidos – Poemas e Canções, Navegar Editora, São Paulo, 2008.), mas pela minha natureza arredia, monástica não sou lá de tecer loas ao vento e debruçar-me em qualquer exemplar que me chegue às mãos e leia do começo ao fim.

 

Porém, em Antônio Lins, há um diferencial, pois é um poeta especial, combatente, de trincheira que faz dos seus versos munição para a longa batalha neste mar de laureados de bolso puro. Seu verso é a sua arma quando o poeta canta em “Acalanto”. “Deixo meu verso / escrito / Sobre as sombras / E sobre as mesas. / Escrito / Sobre as sanhas, / As manhas / E sobre as massas... / Quero a palavra / Apenas e tão somente / Como arma. / Quero apenas / Deixar meu verso escrito, / E não lido. / Livre e solto / Sobre as sombras / E sobre as mesas, / Sobre as massas / E sobre as cabeças acesas...” In pág.14.

 

Em revolta, de coração combalido, naquela manhã tenebrosa de 24 de outubro de 1975, quando assassinaram o jornalista Vladimir Herzog, nos porões do DOI/CODI, que apressou a queda do regime militar vigente na época, e vejam que se necessitou para que este país respirasse liberdade de cadáveres de inocentes como o de “Vladi” e milhares outros, o poeta Lins eclode em “Poema Nacional Brasileiro”: “De quase tudo resta um pouco. Muito pouco. / Os sonhos. Apenas sonhos que não / sonhamos / Restou muito pouco. / A palavra dita, não escrita / Restou muito pouco. / O poema escrito por mãos trêmulas / Restou muito pouco. / O país inteiro vestido de negro para saudar a bandeira nacional / Restou muito pouco. / O que torna impossível o possível / É o desalento, o desamor, a dor, o pecado, / O pecador. / O resto, o rosto, restou muito pouco, / Ou quase nada restou. / Enquanto o meu canto sobrevoa o pranto, / Apenas silêncio / Ouvia-se / Atravessando os muros.” In pág. 25.  

 

Mas no coração deste poeta “engager ” sobra lirismo e ternura, como no “Canto do Amanhecer” onde tudo não está perdido, ainda resta-nos a esperança rondando nossos corações:“Nem um poema ou um verso / De Ascenso Ferreira.... / Faz-me entrar naquele trem / Que deixou de existir dentro de mim... /  Quero estrelar estrelas / E sentir a dor de todas as manhãs / Que abortarem... / E deixaram de existir dentro de mim...” In pág 29.

 

Antônio Lins detém um humor em sua poesia inerente ao bom baiano como em “Quilos e Meio de Poemas” In pág. 48: “Quatro quilos e meio de poemas... / Para desabafar o bafo da cidade. / Quero escrever um verso / sem métrica, sem rumo. / Um verso estonteante, / Apavorante, / Que penetre / Os contornos da cidade.”

 

Em “Amores Partidos” é uma poesia solidária, poesia que nasce num coração de um poeta sofrido, de um poeta apaixonado pelo seu povo, sua terra, uma poesia que brota aos borbotões como água boa de cascata que vai passo a passo inundando cada leitor com cada verso ornado, num primor de auréolas de anjos a soprar em trombetas poemas e canções.

 

 

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