Diário da Classe
(Miguel Carneiro)
Para Adelmo Oliveira e Maria da Conceição Paranhos,
plenos em meu coração
Nosso pecado é firme, a contrição subtil;
Vendemos a bom preço as nossas confissões,
E vamos pela lama a chafurdar
canções,
Julgando lavar toda a mancha
em choro vil.
(Charles
Baudelaire, tradução de Sephi Alter)
Eu
sempre andei solitário
no
meio de pouco chão
fico na vigília de
Tempo
busco alento ao coração
Carlos Anysius Melhor
vislumbrando nas auroras
de
coração combalido
tofranil
– alucinação.
Sempre fui anacoreta
no
meio da multidão
embriagado nas quadras
em
plena luz de verão
Paulo Garcez de Senna
barbas longas de profeta
rindo-se da podridão.
Sempre fiquei ermitão
no
meio daqueles eleitos
encontrando mil defeitos
corja de laureação
José de Oliveira Falcón
que
esteve sempre proscrito
na
Bahia de tanto picão.
Eu
sempre estive eremita
na
poética marginal:
Haroldo Nunes,
Zeca de Magalhães,
dando testa a cambada oficial
sem
gozar de nenhuma tradução
A
província sempre politiqueira
o
poema servindo de ornato
cerimônia de condecoração.
Sempre me fiz anacrônico
em
meio a décadas, geração:
Dori e Agenor Campos...
Zanzando por entre bares
meota
– pé de balcão.
Eu
sempre estarei isolado
tangendo meus próprios dias
na
mesma aporrinhação
Manoel de Almeida Cruz
escorado em mesa de bar
o
silêncio estampado nos jornais
malta de medíocres exibindo-se
em
meio à esculhambação.
Sempre viverei sozinho
igual a um cão sem coleira
fazendo meus versos quebrados
sem
me importar com besteira
–
manuais de versificação...
Bahia, 25 de julho de 2007 (inédito)
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