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Nicolau Saião

 

CINCO POEMAS

 

(Lau Siqueira)

 

 

condição perene

 

 

      nas cheias

o rio comanda o espetáculo

 

e as margens são apenas 

degraus para o leito mais fundo

 

                nas secas

                o rio é a margem

 

 

 

 

razão

nenhuma

 

 

o que escrevo

é apenas parte

do que sinto

 

a outra parte

finjo que minto

 

         e acredito

 

 

 

 

aos predadores

da utopia

 

 

dentro de mim

morreram muitos tigres

 

os que ficaram

no entanto

são livres

 

 

 

 

as flores mallarmaicas

 

 

                  queria

                  num poema

             oferecer flores

 

      um jeito lógico

de não arrancá-las

da placidez silvestre

 

!               como as flores

da adivinha mallarmaica

“que nunca estão no buquê”

e cujo aroma experimentamos

nas planícies viageiras

                         do significado

 

                       a palavra pétala

entre húmus e caules de linguagem

embriagando a dor extraída

deste pólen com o qual enlouqueço

as abelhas africanas

                             do esquecimento

 

             mas tudo que tenho

são essas mãos vazias e uma

            paixão petrarquiana

de insuportável hálito

                          modernista

 

 

 

 

cobaia

 

 

não existem feridas

que não cicatrizem

mas a marca funda

de um olhar amargo

dói como a dor

de um bicho esmagado

 

 

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