CINCO POEMAS
(Lau Siqueira)
condição perene
nas cheias
o rio comanda o espetáculo
e as margens são apenas
degraus para o leito mais fundo
nas secas
o rio é a margem
razão
nenhuma
o que escrevo
é apenas parte
do que sinto
a outra parte
finjo que minto
e acredito
aos predadores
da utopia
dentro de mim
morreram muitos tigres
os que ficaram
no entanto
são livres
as flores mallarmaicas
queria
num poema
oferecer flores
um jeito lógico
de não arrancá-las
da placidez silvestre
! como as flores
da adivinha mallarmaica
“que nunca estão no buquê”
e cujo aroma experimentamos
nas planícies viageiras
do significado
a palavra pétala
entre húmus e caules de linguagem
embriagando a dor extraída
deste pólen com o qual enlouqueço
as abelhas africanas
do
esquecimento
mas tudo que tenho
são essas mãos vazias e uma
paixão petrarquiana
de insuportável hálito
modernista
cobaia
não existem
feridas
que não
cicatrizem
mas a marca
funda
de um olhar
amargo
dói como a
dor
de um bicho
esmagado
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