Sobre
«Outros bichos» de Renato Suttana
(José
do Carmo Francisco)
Poeta,
tradutor e ensaísta, Renato Suttana iniciou em «Bichos» (2005)
uma demanda poética sobre estes co-habitantes da nossa Terra. Em «Outros
bichos» (2011), seguindo a linha dos clássicos (Esopo, La
Fontaine, Aquilino Ribeiro) o autor (mesmo sem ser biólogo) «investiga,
escava, interpreta e apresenta essa parcela da vasta realidade que
cerca o ser humano, procedendo a uma constante interrogação sobre
o outro» - conforme prefácio de Ruy Ventura.
Este
belíssimo livro conta com desenhos de Alberto Lacet e organiza-se
em breves narrativas, aforismos e legendas que são sempre poemas.
Como o da gaivota: «Pura ave / no ar / - o voo da gaivota / sacode
/o /mar». Ou como o caracol: «Se um caracol / aonde quer que vá /
(lento seu existir / longe o lugar / aonde tem de / ir)/ não se
adianta / nem se atrasa / é porque leva consigo / a sua casa». Ou
ainda a girafa: «Longos pescoços não as tornam / menos elegantes.
/ Antes / fazem-nas mais / íntimas / do ar. / (Passeiam em campo
aberto / como torres em equilíbrio / senhoras de si mesmas.) /
Teriam / exigido de Noé / tectos mais altos.»
A
reflexão sobre os animais torna-se reflexão sobre o Mundo e sua
gramática; veja-se o poema da borboleta: «Ao estudá-las é que se
descobre / que a beleza / sempre foi além / acrescentando / leveza
e cor / ao silêncio. / (Como imitar / o voo da uma borboleta / num
verso?) / Sua asa / expande os limites /do ar». Outro exemplo é o
poema do boi: «(Nada há que ele não saiba / ou nada / que ele já
não conheça / desde o princípio: as / surpresas do sol / os
pensamento / do vento; / o vento / e algum secreto modo / de
transformar-se em relva / o que é sol, o que foi /noite). No boi /
o tempo se enraíza / profundamente. / E em seu vasto respirar /
respira também / e aspira / à eternidade».
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