Home Poesia Prosa Traduções Colaborações Arquivo Contatos

Bem-vindo à homepage de Renato Suttana.

Nicolau Saião

 

ESCLARECIMENTO PRELIMINAR

 

(Eduardo Llanos Melussa)

 

Se ser poeta significa fazer cara de sonho,

perpetrar recitais à vista e paciência do público indefeso,

infligir-lhe poemas ao crepúsculo e aos olhos de uma amiga,

de quem desejamos não precisamente seus olhos;

se ser poeta significa achegar-se de mecenas de conduta sexual duvidosa,

tomar chá com biscoitos junto a senhoras ainda relativamente desejáveis

e pontificar ante elas sobre o amor e a paz,

sem sentir o amor nem a paz na caverna do peito;

se ser poeta significa arrogar-se uma missão superior,

mendigar elogios a críticos que no fundo se aborrecem,

conluiar-se com os jurados em cada concurso,

suplicar a inclusão em revistas e antologias do momento,

então, então, não quero ser poeta.

 

Mas se ser poeta significa suar e defecar como todos os mortais,

contradizer-se e remoer-se, debater-se entre o céu e a terra,

escutar não tanto aos demais poetas como aos transeuntes anônimos,

não tanto aos lingüistas quanto aos analfabetos de precioso coração;

se ser poeta significa inteirar-se de que um João violou sua mãe e seu próprio filho

e que em seguida chorou terrivelmente sobre o Evangelho de São João, seu remoto xará,

então, bom, poderia ser poeta

e agregar algum suspiro a esta neblina.

 

 

(Tradução de Marcelo Bueno de Paula)

 

 

Retorna ao topo