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Nicolau Saião

 

 

VOZ DO VENTO

 

(Enrique González Martínez)

 

A canção que não crave

Na metade do peito

Como dardo flamígero

Um estremecimento

Deixa que se disperse

Na escapada de um vôo

Como pássaro errante

Que se mira à distância –

Deixa que se dissipe

Sem o vibrar de um eco

Na neblina, na sombra

E no silêncio.

 

No fundo da alma existe

Um lago de polidos

Cristais, que se assemelha

A um misterioso espelho.

Na quietude do lago,

O milagroso verso,

Qual davídica funda,

Lança o tiro certeiro,

E se agitam as águas

Em círculos concêntricos,

E mostram-se um instante

Vindas do fundo seio

Todas as velhas coisas

Guardadas pelo tempo:

Ânsias, choros, sorrisos

E lembranças.

 

Deixa ao cantar fecundo

O espírito aberto;

Quebre as límpidas ondas

O seixo do fundeiro;

Mas a voz que não crave

Na metade do peito

Como dardo flamígero

Um estremecimento

Deixa que se disperse

Na escapada de um vôo,

Deixa que se dissipe

Sem o vibrar de um eco...

 

Dessa hora infecunda

Ante o passo sinistro

Em que a voz da alma é apenas

A inquieta voz do vento,

De tua morada íntima

Fecha todas as portas

E ouças não mais o ritmo

Do silêncio.

 

(Traduções de Renato Suttana)

 

 

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