TRÊS
POEMAS DE ANNA AKHMÁTOVA
SENTENÇA
No meu
peito uma palavra
de pedra
veio cair.
Que nada!
Pronta eu estava.
Sou capaz
de resistir.
Hoje há
muito que fazer:
devo
matar a lembrança,
à alma
dar pedra, substância,
e
reaprender a viver.
Ou... O
verão, farfalhando,
entra
pela gelosia.
Venho há
tempos esperando
luz
diurna, casa vazia.
MUSA
Quando à
noite eu espero a sua vinda,
numa
balança a minha vida pende.
Que é a
honra, a liberdade, a juventude?
Fumo que
de um cachimbo se desprende.
Veio,
jogando o manto para trás,
e uma
atenção cordial me concedeu.
“Foste –
eu lhe disse – quem ditou a Dante
as
páginas do Inferno?” E ela: “Fui eu.”
MÚSICA
Há nela uma fulgência
milagrosa,
cujas facetas sempre me
encantaram.
Foi a única a falar-me,
corajosa,
quando os outros,
medrosos, se afastaram.
Depois que se desviou o
último olhar,
no túmulo ao meu lado
ela cantava –
como a primeira chuva
que o chão lava,
ou mil flores num campo
a conversar.
(Traduções
de Renato Suttana)
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