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Nicolau Saião, Mariana 6

 

RESPOSTA A UM QUESTIONÁRIO (recebido de Renato Suttana)

 

(Wladimir Saldanha)

 

1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

 

Certamente, poesia. E em minha língua. Podia ser a “Clepsidra”, de Camilo, ou o “Livro de Cesário Verde”.

 

 

2. Já alguma vez ficaste apanhadinho por uma personagem de ficção?

 

“Apanhadinho” é o quê? Se for indigitado, cagüetado, fico “apanhadinho” sempre que os escritores me trazem o velho personagem funcionário público, lírico e protocolar, afogado em papéis, bracejando na imaginação. Fui Policarpo Quaresma (de Lima Barreto); fui o amanuense Belmiro (de Cyro dos Anjos); fui quase todos os fiscais de Gogol; estive presente ao velório de Ivan Ilitch.

 

Os russos são terríveis. Num conto, Tchecov pintou um estudante de Direito que vai à farra e não aproveita nada...

 

Mas se “apanhadinho” é caçado, feito serviçal, gato e sapato, aí a primeira algoz foi aquela Emília, do Sítio do Pica-pau Amarelo, de Lobato. Por causa dela, abri a cabeça de sapos e lagartixas, à procura da glândula pituitária, que nunca achei.  Depois, na adolescência, veio Lord Henry, de Wilde (“Retrato de Dorian Gray”) e destruiu meu resto de sanidade, com suas conversas sobre o Belo, a Arte...

 

 

3. Qual foi o último livro que compraste?

 

“A Rua dos Cata-ventos”, de Mário Quintana. Esperei sempre esse livro, que vivia esgotado. Agora, no centenário do autor, republicaram. É a estréia do poeta gaúcho, onde estão – não hesito em dizer – alguns dos mais belos sonetos da língua.

 

 

4. Qual o último livro que leste?

 

Um livro de contos – “Memorial dos Medíocres”, de um autor baiano, Tom Correia L. Brochura magra, prêmio estadual de incentivo a estreantes. Achei-o por acaso, e o título me fisgou. Excelentes contos. Só lamento que o autor não responda a e-mails...

 

 

5. Que livros estás a ler?

 

Finalmente, “aconteceu-me” o Dom Quixote. Tinha-o há vários anos, mas... Enfim, sou meio de envelhecer o livro, como numa adega. Um dia vou lá, olho a lombada como quem confere um rótulo e, nem sei por quê, animo-me a provar. No caso do Quixote, sendo 2005 um ano de festa, não poderia haver melhor ocasião. E estou ébrio deste livro “eterno e belo, belamente eterno”, como dizia um personagem de outro, aliás, de outros, o filósofo Quincas Borba.

 

Mas leio também o livro de Quintana; este, não como vinho, mas como licor: pequenas doses.

 

 

6. Que livros (cinco) levarias para uma ilha deserta?

 

Li, sei que li, um texto de Drummond respondendo a essa mesma pergunta; lembro que levaria André Gide, o mais remoto autor da armadilha, o primeiro a perguntar. Bom castigo.

 

Eu levaria o próprio Drummond – uma obra completa; levaria uma antologia de Hemingway, que não deixasse de fora “Francis Macomber” e “A Alma dos Rios” – este para guia de sobrevivência; número três? “Orlando”, o homem eterno de Virgínia Woolf, para relativizar o tempo (na tradução de Cecília, que assim me arranjo com um 2 em 1); quatro: é o “Quincas Borba”, de Machado de Assis, com aquele Rubião que, como ninguém, sabia fitar o mar; e afinal outro Quincas, e outro 2 em 1 - “A Morte e a Morte de Quincas Berro D´água” , de Jorge Amado, para o caso de saudades da Bahia.

 

 

7. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e por quê?

 

Vai para o contista Marcus Nascimento, de Minas Gerais, pela curiosidade de saber que leituras, presentes e passadas, entortaram tanto seu juízo; para outro contista, aquele Tom Correia L., a fim de ver se doravante responde a meus e-mails; e para meu amigo Paulo Roberto Couto, Paulinho, que não é contista, nem poeta ou romancista, mas aquele bicho raro e esquivo que chamamos leitor.

 

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