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Nicolau Saião, Sem título

 

SEMPRE TE ESPERAREI NOS TEUS POEMAS

 

(Nuno Rebocho)

 

a Eugénio de Andrade

 

disseste ar como o fruto do poema amadurece

os barcos para a longa viagem. e disseste terra: a outra mão

afagou o vento com o murmúrio da água

porque as árvores acamaradavam

e eu iniciava a amizade. o rio não fechou os olhos

nem as sombras se cansaram do húmus da claridade

- ali estavamos eugénio com o arcaboiço

de quem se atreve no regaço pronto

à rebeldia da vida: o douro desafiava

e os cachos cantavam o vinho do teu poema. assim foi

que as nuvens se envergonharam dos silêncios

enquanto recolhíamos os cálices do dia.

 

as amizades (eugénio) são como as bocas

de mamar o tempo mesmo que a cárie doa e os murros

levem os dentes. sei que no caminho há despedidas: deixa lá.

sempre te falarei nos teus poemas. que se cansem

os barcos deixa lá: sempre te esperarei nos teus poemas.

 

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