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Paul Signac

 

DOIS POEMAS

 

(Mauro Mendes)

 

 

BOM TEMPO

 

O futuro não volta, mas o passado espera, a cada instante. Bem que mal avançamos, rente ao muro das casas, protegidos pela sombra das flores de algum jardim... O tempo vem da mais recente fumaça... Uma canção também vem vindo, sorrateira... A verdade mora num poço e, na ponta do arco-íris, como diziam os antigos, existe um pote cheio de ouro, uma botija. Só esqueceram de dizer em qual das pontas...

 

Lembra-te disto, nas tuas viagens! Afinal, nada parece com nada, exceto pela vontade de chegar...

 

 

 

 

ACALANTO

 

Pela janela entreaberta, qualquer descuido de fresta, eu sempre respiro a noite. A luz branca de neon não tem ciúmes da aurora e se apagará, uma vez amanhecer...

 

O vento não vai a nenhum lugar. O vento, em calmos tempos de teto de zinco, sopra uma banda de lua ou outra, sem pretensão de estar mais que a alguns palmos acima do chão do meu sono...

 

O tempo de dormir é um vago bocejo, na noite que se encolhe... Eternite é a sua marca declarada, como se fosse uma doença que não passa. A noite que acalenta o meu sonho não enxuga minhas fraldas...

 

Foi assim que adormeci e toda noite que se preza tem cachorros, gatos e galos ao amanhecer... Barulho de guitarras entremeado... Se a guitarra se quebrar no quente, vai ser preciso adiar o sol nascente...

 

Pensei, então, em não pensar em nada, pra não ter que levantar no escuro e anotar estas idéias a medo. Deixei tudo pendurado nas vigas do teto. Eternite. Doença que não passa. Acordarei de olho numa réstia...

 

— “Oi, “brothers”, rijas tacadas praça afora, esculápio das sinas, boticário dos sonhos e antolhos. Alguém me acordou neste sono. Quem me nasceu”?!

 

Mas tu, quando vieres voltando das procelas em que te fizeste ao largo, não esqueças: o navio é o náufrago e, debaixo das águas, milhões de peixes

contemplam esta manhã!

 

 

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